DE MOTO, PELAS ALTAS MONTANHAS E VALLES CALCHAQUIES

 

 

Texto: Róger Rehbein 

Fotos: Evandro Linck e Róger Rehbein

Vales Calchaquies.

 

A INSPIRAÇÃO - Em 2013, passando pela região de Salta, com destino ao Atacama e à Machu Pichu, me encantei com a cidade, de belíssima arquitetura espanhola, cercada pelas montanhas pré-andinas e com forte herança indígena/inca. Naquela oportunidade conhecemos Salta, conhecida como “La Linda”, capital da província desde os tempos de Vice-Reino Espanhol, mas não as belíssimas cidades históricas de Cafayate, Cachi, San Antônio de Los Cobres e Purmamarca, desde então, a idéia de percorrer a região não saiu da minha cabeça, o que originou nossa aventura de moto pela região dos Valles Calchaquies e altas montanhas próximas.

 O PLANEJAMENTO – Esta etapa é quase tão prazerosa quanto a viagem mesmo, as escolhas de estradas, cidades, paradas e pontos de interesse a visitar nos enche de expectativa e praticamente se faz o trajeto antecipadamente. Foram semanas de planejamento e pesquisas, com a idéia básica de rodarmos em torno de cinco mil quilômetros, incluindo a Ruta 40, as cidades ds Valles Calchaquies e todas as estradas de montanhas da região. Com o fechamento do grupo, ainda fizemos duas reuniões/briffing para acertar detalhes logísticos e técnicos, claro que acompanhados de um bom churrasco. Restava colocar as contas em dia, solicitar as férias, equipar e revisar a companheira de viagem e aguardar a partida.A escolha da moto ideal pra aventura que antevíamos, indicava como ideal uma trail média, como eu já contava com a minha Honda NX4 Falcon 2007 na garagem, foi o suficiente a instalação de relação e pneus novos, e uma revisão geral, eis que apesar de seus dez anos de idade, ainda se encontrava pouco rodada, cerca de treze mil km. Ainda instalei bagageiro, baú e afastadores de alforges (estes nem cheguei a utilizar). Antes da aventura realizei alguns percursos de serras e estradas de chão para testar a moto, o equipamento e obviamente o piloto.  

 O ENTUSIASMO – Roteiro preparado e estudado, custos aproximados já levantados, não consegui de imediato companhia pra aventura. Em um churrasco com os amigos do motogrupo M@d (Motociclistas Amigos do Debate), lancei a idéia e o convite, sendo que prontamente o amigo Evandro (de Bento Gonçalves) mostrou-se interessado.Mais do que interessado, assim que lhe remeti o roteiro ele afirmou que iria, só lhe faltavam a autorização da família, as férias e a moto... No segundo dia, com certo entusiasmo, já me informava que havia conseguido os dias de férias necessários e a compreensão da esposa e filha, só lhe faltava a moto... No terceiro dia, muito entusiasmado, anunciava que achara a moto, uma Yamaha Teneré 250, quase zero e já equipada. Evandro ainda colaborou ativamente com ótimas sugestões ao roteiro, acrescentamos uma passada pelo autódromo de Termas do Rio Hondo, visita às ruínas de Quilmes e uma esticada até a cidade encravada na montanha, Iruya.Era o que me faltava, entusiasmo para tirar o audacioso plano de viagem do papel. Com a companhia acertada, também solicitei minhas férias e com o apoio da esposa e filha, estava decidida nossa partida, 18/mar, um sábado.O INÍCIO - Como eram três aventureiros de lá, optamos por partir de Carazinho, então saímos eu e o Ricardo, daqui de Santa Cruz do Sul, na sexta-feira à tardinha para nos encontrarmos com os amigos de viagem, onde também o amigo Evandro de Bento já nos aguardava. 220 km de estradas bem conhecidas, que serviu pra aliviar o stress que sempre nos acomete antes da viagem. Na madrugada do dia 18/3, primeiro dia, rodaríamos pela BR-285, chegando perto do meio dia em São Borja (340 km)  

  Foi um excelente começo de jornada, poucos caminhões na madrugada, parada para abastecer, tomar café, e outra não programada, para consertar a viseira do capacete do Tio Carlos (Carlos é Tio de Evandro, Adriano e João), silver tape funcionando pela primeira vez. Comboio bem organizado e rápido, acabamos indo na direção de Giruá, no trevo de Entre-Ijuís, pequeno acréscimo de 40 km, até percebermos o erro. Chegando em São Borja aproveitamos a última oportunidade de abastecer com gasolina e principalmente, preço brasileiro, aproveitando também para encher nossos galões de reserva, sim, levamos cada um cinco litros para qualquer contingência, pois apesar do planejamento indicar que não teríamos problemas com abastecimento, ouvimos relatos nas vésperas da viagem, que o norte da Argentina estava tendo problemas com alguns postos sem gasolina, que poderia dificultar em muito nosso roteiro.  cobrança de motos, cerca de R$15,00 por moto, bastante caro, até porque em três quilômetros trocaríamos de estrada, saindo da Ruta Nacional 121 e pegando a Ruta Nacional 14, direção norte. Rutas Nacionais (RN) são estradas federais argentinas, equivalentes às nossas BRs, e diga-se, muito boas e bem conservadas.O relógio do Tio Carlos e certamente seu estômago também, indicavam que era hora de almoçar, e solicitavam uma parada, percorremos vagarosamente alguns quilômetros buscando por lancheria ou restaurante à beira da estrada, pois ainda teríamos muita estrada pela frente, mas sem sucesso. Embora já combinado que nos dias de percorrer longa distância, como era o caso do primeiro dia, pararíamos apenas para lanchar enquanto abastecêssemos as motos, a expectativa por uma “parrillada” era o que nossas entranhas pediam.A tão sonhada oportunidade de acalmar o estômago só veio 65 quilômetros depois, em um posto de combustível à beira da estrada, na cidade de Governador Engenheiro Valentin Virasoro, gasolina tipo Super 95, quase cinco reais o litro. Embora contasse com ar condicionado, WiFi e limpíssimas instalações, as opções gastronômicas restringiam-se à empanados e sanduiches, que embora gelados, poderiam ser aquecidos no “horno” de micro-ondas. Não era ainda uma parrilhada, mas serviu ao principal propósito.Depois de mandar-mos notícias pra família, partimos ainda ela RN14 por mais 10km até o “empalme” com a RN120, estrada não tão boa, mas em obras aceleradas de recapeamento asfáltico.  Esta região geográfica fica entre os importantes rios Uruguai e Paraná, e dá nome à província de Entre-Rios, a ruta 120 nos leva das barrancas do rio Uruguai até às do rio Paraná, ligando a RN14 à RN12 que, margeando o último, nos leva até a cidade de Corrientes. Historicamente importante, a região foi paco de memoráveis, sangrentas e decisivas batalhas navais durante a Guerra do Paraguai, sendo que muitas delas hoje nominam as cidades que margeiam o lado  argentino do rio. Paramos para abastecer em um posto na cidade de Ita-Ibaté.Nossa passagem por Corrientes estava minada pela pressão psicológica de se evitar um posto da polícia “caminera” que fica já na entrada da ponte, devido aos inúmeros relatos de motociclistas que sofreram achaques, então tínhamos um plano, entrar na cidade, rodar até a avenida “costanera”, pegando a ponte na última saída, como fazem os locais. Para isto enfrentamos trânsito pesado e várias sinaleiras fechadas, que por vezes separaram nosso grupo de seis motos, mas a estratégia funcionou, subimos, percorremos e saímos ilesos da “armadilha”. Gize-se, belíssima ponte! Pena não ter como parar bem no alto, pois trata-se de uma ponte estaiada de grades dimensões, pois atravessa o rio Paraná em ponto de grande largura e para permitir a navegação sob, conta com grande altura.

Dia longo, cansaço pegando, ainda tínhamos que chegar ao hotel reservado de véspera. Para isto contamos com o GPS do Evandro paranos deixar bem em frente do Hotel Diamante. Depois do banho, uma saída rápida ao centro da cidade para jantarmos, algumas cervejas, fritas e filés que aplacaram nossa fome e sede. A ótima surpresa, o preço: saiu tudo por aproximadamente 40 reais pra cada um.O PIOR JÁ PASSOU – “Desayuno” para os “hermanos” argentinos deveria ser igual ao nosso café da manhã, mas não é bem assim, enquanto por aqui em qualquer pousadinha meia pataca se oferece frutas, presunto, queijo, pães e cereais, por lá nos oferecem apenas café com leite e croassant doce (conhecido como “media luna”). Marcamos a saída para depois do café, mas fora perda de tempo, seria necessário uma parada no caminho para comer algum empanado ou sanduiche. Mas ao lubrificarmos as correntes das motos antes da partida, Carlos percebeu que a corrente da Falcon do Adriano necessitava ajustar, porém não tinha mais ajuste, teria que retirar um elo, procuramos a concessionária Honda, mas eles não possuíam oficina, benignamente nos indicaram uma que estaria aberta, onde, logo ao chegarmos, após um exame preliminar demos conta que não bastaria encurtar a corrente, estava tudo ruim, corrente, pinhão e coroa, esta com dentes gastos e torcidos. Vai o Adriano e o João, na moto do Carlos de volta pra Honda buscar o kit, pois era a única com lugar pra carona, e, como demoravam a chegar, uns trinta minutos depois, fui também, lá (na Honda) me informaram que haviam saído já há bastante tempo, regressei e eles recém tinham chegado, caíram numa blitz e estavam sem os documentos da moto que tinham ficado com o Carlos, na oficina. Conseguiram sair depois de muitos: sim senhor, não senhor...Relação trocada, umas três horas perdidas, e partimos rumo a Santiago del Estero, cerca de 600 km, RN16 pelo chaco argentino, estrada difícil, pra mim certamente o mais chato e cansativo trecho de toda a viagem, reta interminável, calor, monotonia e animais à beira da estrada, demandavam muita concentração. A boa notícia é que nosso objetivo exigia sair da interminável reta da RN16, o que fizemos após 200 km, quando paramos para abastecer, comemos e pegamos a RN89. Estrada boa e menos monótona, após mais uma parada para abastecer, tomar água e esticarmos as pernas, seguimos ate o destino, onde novamente o GPS do Evandro nos ajudou a chegarmos ao Hotel Centro. Fomos àpraça central da cidade onde optamos por comer pizzas, depois de malograda tentativa em outro restaurante que não tinha comida pra oferecer. Novamente os preços foram ótimos pra nós, pouco menos de 40 reais no rateio.TURISTANDO – Conforme planejado, começaríamos a parte mais interessante da viagem, depois de enfrentarmos com sabedoria e paciência as grandes retas... A primeira e desejadíssima parada, Termas do Rio Hondo, visitar o autódromo e o museu, cerca de 70 km de Santiago del Estero, excelente estrada, o circuito internacional recebe etapa da MotoGP, e estávamos a dez dias da prova. Fomos direto para o autódromo, e após algumas fotos da represa e do pórtico... Entramos no autódromo e estacionamos bem em frente ao museu, antes que descêssemos das motos um segurança chegou correndo e solicitou que saíssemos, estava fechado devido aos preparativos para a MotoGP. Grande decepção, para alguns de nosso grupo seria a principal atração da viagem, cogitamos ficar mais um dia, mas a maioria optou por seguir o planejado.  

Voltamos à pequena cidade de Termas do Rio Hondo e paramos em um restaurante e lancheria onde almoçamos uma “hamburguesa”, tipo um hambúrguer mesmo. Sem mais delongas, mas de coração partido, retomamos a viagem, ainda iríamos começar a subir a cordilheira e a promessa era de grandes emoções.Partimos pela RN9, uma só reta pra variar, quente e monótono, até o “empalme” com a Ruta Provincial 323, estrada em precárias condições, com vários trechos sem pavimentação, estávamos treinando para o que ainda encontraríamos. Uma trechinho de 4 km pela RN157 com parada para abastecermos e também vestirmos as roupas impermeáveis, nos aproximávamos da chuva, e o empalme com a RP323, a qual percorremos até a cidade de Famailá, onde pegamos a RN38 até Acheral, donde avistamos a cordilheira pela primeira vez. Em Acheral inicia-se a novíssima e também pitoresca RP307, estrada acrescentada ao roteiro por suas dezenas de curvas e maravilhosas vistas, cartão postal de entrada ao Valle Cachaquie, e acesso à cordilheira andina, iniciava-se nossa jornada pelas altas montanhas sul-americanas. 

 Alguns quilômetros de chuva fraca, quatro ou cinco paradas para fotografar e a chuva tornou-se forte, aliada à altitude, passamos frio, mas a subida e as curvas estonteantes nos extasiavam, algumas tantas nominadas, tipo “curva da Ferradura”, “curva da Ponte” e até “curva de La Muerte”. Paramos para reforçar a roupa junto ao Parador Del Índio local muito bonito, já bem alto, com uma estátua gigante de um índio, lancherias e venda de “artesanias”.Seguindo em frente e ao alto, ainda haveriam muitas curvas pra vencermos, aos poucos e devagar devido à chuva e a cuidado extra que isso nos exigia, fomos subindo até que a paisagem mudou, de mata fechada e úmida pra campos de altitude, estávamos chegando ao Dique La Angostura, grandiosa represa para reter a água do degelo dasmontanhas e garantir abastecimento para o ano. Estávamos chegando na belíssima e turística Taffi del Valle. 

 Após rápida parada no dique, subimos nas motos e vamos em frente, ainda restavam 120 km até Cafayate e as condições climáticas estavam se asseverando. Taffi del Valle parece ter saído dos contos de fadas dos irmãos Grimm, paisagem suíça, campos verdes com algumas árvores frondosas, pinheiros, plátanos e outras, emoldurando casas de pedras de amplas janelas e chaminés em plena atividade, pensei na solidão do capacete que minha esposa iria amar aquele lugar e resolvi gravar na mente aquelas belas imagens, dignas de estampar calendários de grandes firmas.Já saindo de Taffi del Valle, e claro ainda subindo, a chuva recrudesceu, e, para piorar a condução, surgiu uma densa cortina de nevoeiro, reduzindo nossa visão da estrada para poucos metros. Como se isto não bastasse, vários animais sobre a pista nos obrigavam a reduzir ainda mais nosso ritmo. Pensei comigo que seria prudente parar, voltarmos e pernoitar ali mesmo, mas olhando para o odômetro e para o relógio, e refazendo os cálculos, optei por seguir naquele ritmo, conquanto o comboio ainda seguia com o mesmo cuidadoso ritmo.Foram uns 10 km tensos, mas logo o tempo abriu, o frio aumentou e a chuva parou, estávamos no alto da montanha. A paisagem era magnífica, podia-se visualizar a estrada adiante e algumas dezenas de curvas serpenteando entre as encostas, ora pedregosas, ora verdes. Quando logo após uma leve subida e tomando-se uma curva à esquerda tem-se uma vista espetacular da cordilheira com seus picos de neveeterna, tratava-se de um ponto já assinalado no roteiro e que reclamava uma parada para fotos, “El Infernillo”. 

 Dali em diante aparentava que descíamos em direção ao vale, mas ainda andamos mais uns dez quilômetros até que realmente começamos a descer, e em grande estilo, semelhante aos “caracoles” chilenos do Passo Cristo Redentor, eram curvas harmoniosas que se repetiam no mesmo ritmo ao tempo em que nos faziam descer, proporcionando aquela sensação de que estamos na verdade dançando uma valsa com nossas motos, quem já fez conhece bem... Estávamos chegando em Amaicha del Valle, outra bonita cidadezinha que mantém os costumes ancestrais indígenas. Passamos pelo Museo Pachamama (divindade inca criadora da terra) e numa rápida reunião, decidimos seguir em frente para recuperarmos o tempo perdido.Em pouco menos de dez quilômetros estávamos chegando ao “empalme” mais aguardado do dia, final da RP307 e entraríamos na mítica Ruta 40. Uma ótima sensação de missão cumprida, começamos ali outra parte de nossa aventura, e começaríamos já com uma visita de alguma importância: as Ruínas de Quilmes, local 

onde se descobriu as ruínas do que outrora fora uma grande e próspera comunidade inca da tribo dos índios quilmes (não da fábrica de cerveja). Percorremos uma estradinha local de muita pedra, poeira e bancos de areia, cerca de cinco quilômetros, até a entrada do parque, mas ao conversamos com a moça da portaria ela nos disse que o passeio a pé pelas ruínas e mirantes, demandaria mais tempo do que dispúnhamos, então novamente decidimos deixar para uma próxima oportunidade.

Até Cafayate seriam mais 50 km, e neste trecho a RN40 encontra-se asfaltada, logo nos primeiros quilômetros fomos apresentados aos “badanes”, rebaixos na estrada para permitir a passagem de cursos d’água originados pelo degelo. É preciso diminuir sempre a velocidade, pois além de parecerem quebra-molas invertidos, possuem água e mesmo os que estão secos, quase sempre o asfalto encontra-se sujo ou deteriorado.

 Alguns quilômetros pelo vale, margeando o banhado do rio de Arenas,logo começamos avistar os parreirais em ambos os lados da estrada, grandes empreendimentos vitivinícolas, que aproveitam a qualidade do solo do vale, a região é reconhecida como produtora de vinhos de excelente qualidade, não paramos em nenhuma “bodega” pois era plano para Cafayate. 
Finalmente chegamos ao destino desta emocionante jornada, a cidade turística de Cafayate, a maior do vale, grande produtora de vinhos finos, bem servida de hotéis e restaurantes, onde ficaríamos dois dia

 
hospedados no Munay Hotel Cafayate. Banho tomado e motos guardadas na garagem saímos para conhecer a quadra e praça centrais, a duas quadras de nosso hotel. Muito acolhedora, o entorno da praça é repleto de bares e restaurantes com mesas em frente à praça, para todos os gostos e preços. Muitas lojas de lembranças e artesanatos e muitos turistas europeus circulando pela cidade, depois de algumas “cervezas” e ótimos “lomos à caballo” fomos nos recolher, descansando para o próximo dia. 
 

 PARQUE DE DIVERSÕES – Dia pra rodar pela RN68, estrada turística que corta a Quebrada de Las Conchas, vale reconhecido como patrimônio natural, a estrada acompanha o curso do rio das Conchas e une Cafayate à Salta.

Uma estrada estupenda, sensacional e surpreendente, curvas de todos os ângulos e inclinações, excelente asfalto e sempre emoldurada pelos tons argilosos e multicoloridos das rochas sedimentares erodidas pelos ventos e pela água, que formaram diversas e curiosas figuras, como “El Obelisco”, “El Sapo”, “El Castillo”, o Monge, a Garganta do Diabo, o Anfiteatro, “Las Ventanas” e outras tantas.                                                                                                                                          Um mirante chamado de “Três Cruces” donde se vislumbra de maneira panorâmica um bom trecho da estrada e do vale. Ainda bem que planejamos a ida e a volta pela mesa “ruta”, pois a vontade era de rodar o dia todo por ali. Dia em que todos nós nos surpreendemos com tamanha beleza e, de certa forma, resgatamos as falhas do turismo do dia anterior, praticamente nos fez esquecer do autódromo de Rio Hondo. 

O playground, quero dizer a estrada, não cansava de nos proporcionar inesquecíveis experiências, pilotando pelo vale na sinuosa pista ao tempo em que a paisagem ia se modificando, de cerrado quase deserto pra mata quase floresta. E fomos ganhando altitude, Alemania, Talapampa, paramos em La Vina para abastecer e tomarmos um café, onde também consegui sacar “pesos” com meu cartão pré pago. Logo chegamos no entroncamento com a RP 47, onde, invés de seguirmos para Salta, rumamos para o Dique Embalse Cabra Corral, uma represa onde desembocam finalmente os rios do vale Calchaquie formando um grande e belo lago de mais de 13.000 ha de superfície, local de pesca, esportes náuticos, lazer e importante usina hidroelétrica. Após percorrermos todo o trecho que corta o dique, paramos para almoçar um peixe grelhado em um restaurante à margem e com vista para a represa.

 Encantados com a beleza do dique, mas já com saudades da Ruta 68, subimos nas motos e iniciamos nosso retorno (160 km), que seria de maneira livre, todos poderiam parar onde bem entendessem para contemplar ou fotografar. Faltando apenas 30 km e com todos já em comboio, paramos para colocarmos os impermeáveis, pois começava a chover fraco, mas nuvens anunciavam potencial chuva forte à frente. Poucos quilômetros depois paramos novamente para retirarmos as capas, pois a chuva não se confirmou e o sol voltava a bater forte. Desta forma chegamos em Cafayate ainda a tempo de fazermos uma visita à vinícola Bodega El Esteco.

Os amigos Carlos e Adriano trocaram a visita por uma “estacion de servicio” para trocar o óleo da Falcon. Grupo reunido novamente, fomosnos despedir do centro de Cafayate, comprando algumas lembrancinhas e jantando cedo, pois o dia seguinte seria nossa estréia no famoso “rípio” da 40.RÍPIO – Combinamos sair cedo, logo após o café, mas decidimos parar em uma padaria para comer de verdade, ótimas torradas com excelentes “jamon y queso”. Depois de um rápido briffing, em que repeti os conselhos recebidos de motoclistas que já haviam passado pelo trecho, partimos para o prometido desafio.

Parecia fácil, seriam apenas 160 km neste dia, mas logo nos primeiros cinco quilômetros, percebi que o comboio não vinha, parei por três vezes esperando avistar a segunda moto no retrovisor, até que, preocupado, parei junto a uma igrejinha bem simpática e aguardei a turma.Carlos e Ricardo estavam com sérias dificuldades para rodar a 60 km/h, após algumas dicas do João (piloto de trilhas) e uma redução na pressão dos pneus, seguimos viagem. Com a pressão menor a Triumph800 e a CB500X conseguiram andar melhor. Animana, San Carlos, Payogastilla, seguíamos o vale do rio Calchaqui, e ganhávamos altitude. A Ruta 40 nos apresentava os desafios, e à medida que os enfrentávamos eles permaneciam em nossas mentes como grandes ameaças. As terríveis costeletas, que disfarçadas sob uma fina camada de brita, chegavam sem aviso, sequência de sulcos longitudinais à rodovia, repetindo-se à mesma distância de cerca de 30 cm um do outro e se prolongando por centenas de metros, às vezes quilômetros. Os “cerrútios”, outro obstáculo mestre dos disfarces, amontoados de brita fina e fofa que aparentavam aqueles trilhos de piso firme, deixado pelas rodas das camionetes.

Chegavam sempre que o entusiasmo nos levava a rodar perto dos 80m/h e era cada susto, daqueles de se torcer a roda dianteira várias vezes para ambos os lados na tentativa de manter-se na vertical enquanto os pés se alternavam ora de um lado, ora de outro, prevendo o pior. Mas o verdadeiro pesadelo do rípio, e o último a mostrar a cara... Bancos de areia. O rípio todo tem tons de cinza cimento, ora um pouco mais claro ou mais escuro, e os bancos de areia, como camaleões do reino mineral, também seguiam a mesma paleta de cores. Simplesmente surgiam do nada, já impondo suas condições a ambas as rodas, fazendo com que se perdesse totalmente o controle do guidom da moto, deixando a frente solta para ir na direção que convir e fazendo perder a tração na traseira, isso tudo num piscar de olhos.

E foi assim que fomos ganhando quilômetros, fazendo uma terrível média de 38 km/h, quando a paisagem no horizonte próximo se alternou,apareciam as bonitas e cinzentas formações rochosas da Quebrada de Las Flechas. São formações pontiagudas e inclinadas, daí “flechas”, com alguns espaços entre elas formando vários desfiladeiros, algumas bem altas, outras nem tanto e que variam suas cores conforme a luz lhes incide, podendo parecer bem brilhantes, quase metálicas em alguns momentos do dia e em discretos tons de ocre quando na sombra. Paramos por quatro ou cinco vezes para contemplar as belas formações, Corte Ventisqueiro, Corte El Canon e Corte das Flechas além do mirante,figuraram em várias fotos e filmagens, na tentativa de guardar lembranças de tamanha beleza natural. 

Em uma destas paradas, creio que no corte Ventisqueiro, ao fotografar, o Ricardo me chamou a atenção para o que seriam nuvens muito brancas no horizonte e bem altas, melhor analisando reparamos que se tratava da primeira vista do magnífico Nevado del Cachi, apelidado naquele momento de Nevado El Cabezon, em homenagem ao Ricardo que primeiro o avistou. Lugar perfeito para meditarmos, novamente nos emocionamos em poder conhecer lugar de beleza tão expressiva e incomum.Lá no mirante de Las Flechas, conversei com um guia turístico que levava um casal em “recorrido” pela quebrada, uma brasileira (de Florianópolis) casada com um francês, este senhor (guia argentino) perguntou se iríamos até Cachi, ao confirmar acrescentei que pretendíamos ir além, subindo a Abra del Acay, neste momento ele me disse, torcendo o rosto, vocês podem até tentar, mas será muito difícil conseguir... Não compartilhei a conversa com os demais companheiros de aventura, já estávamos sendo desafiados pelas durezas e armadilhas do rípio e não havia necessidade de criar mais problemas à troupe.Extasiados e com o sentimento de que se a viagem terminasse ali, já estaria de bom tamanho, seguimos em frente e ao alto. Mais alguns simpáticos povoados históricos, El Carmen, Angastaco, La Angostura, cada um com sua igrejinha jesuítica de pelo menos dois séculos de idade e uma economia simples, baseada em pequenos cultivos irrigados ao longo do vale e do movimento de turistas.Já passava muito da hora do almoço e resolvemos parar no “pueblo” de Seclantás, para isso saímos da 40, atravessamos uma ponte sobre rio Calchaqui e passando pela praça da igreja, dobramos à esquerda, como se soubéssemos ao certo para onde ir. 

Achamos um simpático bar/restaurante que se encontrava aberto, mas vazio, vazio até de dono... Uma sineta na parede acompanhada de um breve letreiro de tocar para chamar, que acionada, chamou o proprietário, um senhor beirando 60 anos, que solicitamente nosofereceu o cardápio, resumindo que o que poderia servir rapidamente eram os empanados, 

pedimos logo três dúzias e três litros de água mineral pois a fome estava acompanhada de uma secura bem pra lá de sede. Enquanto aguardávamos, sentados de frente para a rua, víamos as pessoas passarem, e todos, nos cumprimentavam, bonito de ver as crianças, meninos e meninas, de uniforme branco e com gravatas azuis e lenços vermelhos, educadamente e em bom tom, nos dizendo bom dia. Alguma coisa se perdeu no nosso país. Ah, sim os empanados estavam maravilhosos, não sei se devido à nossa fome, ou ao fato de serem preparados com uma massa especial à base de moranga, recheados com carne de lhama, cebola e tempero verde e assados ao forno de lenha.Saciados e mais acostumados às exigências da estrada, e sempre ganhando altitude, chegamos à Cachi, 2.531 msnm, onde nos hospedaríamos em um de seus melhores hotéis, La Merced del Auto, mesmo Cachi sendo uma pequena cidade não seria fácil achar o hotel, que ficava uns 4km afastado do centro, mas desde o acesso à cidade, haviam placas indicando a direção do hotel.

OLIVER RESTO BAR – Tenho um amigo em Cachi, Martin Oliver, proprietário de um charmoso bar em Cachi, Oliver Resto Bar, tinha lhe avisado que chegaríamos na quarta-feira, e, enquanto seguíamos as indicações das placas para o hotel, passamos a praça, e eis que avistamos o amigo Martin, que já nos acenava, entramos na contra-mãomesmo, estacionamos as motos em frente ao bar e fomos cumprimentá- lo 
Ficamos de jantar por ali e com ele, mas antes ainda queríamos ir até a Cuesta del Obispo, check-in feito, e retirada as cargas das motos, partimos para abastecer e ir conhecer as famosas curvas da RP33.Com certeza estava perto dos 30 graus em Cachi, o que nos animou a percorrermos os 120 km de asfalto com pouco agasalho, saímos lá pelas 16 horas, menos o João que resolvera ficar pelo spa do hotel descansando. Estrada belíssima, em 10 km começava a subir em “caracoles”, logo entramos no Parque Nacional Los Cardones, cardone é um tipo local de cacto, endêmico na região, e em seguida a famosa “Recta Tin-Tin”, uma grande reta catenária de cerca de 17 km, o curiosoé que ela fora asfaltada sem correção sobre o traçado original de um caminho inca, grande precisão topográfica dos ameríndios. Finda a reta, retoma-se a rotina de subir, subir...  

 Logo começou a esfriar, paramos para reforçar a roupa e o Carlos percebeu que a placa da minha moto havia perdido os parafusos e estava por um fio (arame do lacre), segunda oportunidade de nos servirmos da silver tape.Mais uns quilômetros e a sinalização da rodovia indicava que já estávamos a 3.400m de altitude e junto com a indicação, uma chuva leve e neblina forte. Resolvemos desistir de conhecer a cuesta. Na volta uma curiosidade, ficamos impressionados com um clarão formado no meio da neblina, distante uns dois mil metros da estrada, uma área talvez do tamanho de meio campo de futebol bem iluminada, na verdade muitaluminosidade, parecendo uma pintura abstrata dobre uma tela cinzenta, paramos e fotografamos...  Mais adiante, o tempo limpou, o sol apareceu e a temperatura voltou a níveis suportáveis e, ao pararmos novamente e olharmos para trás, vimos que daquele ponto iluminado iniciava-se um belíssimo arco-íris, outro daqueles momentos de elevar a alma.Voltamos ao hotel e em uma pequena reunião propusemos alterar nossos planos de viagem, ficando duas noites em Cachi e suprimindo a ida até o Passo de Sico. À noite, no restaurante do Martin, 

encontramos um grande grupo de franceses, todos de motos Royal Enfield antigas, e todos totalmente empoeirados, já partindo. Martin nos explicou que tem um francês residente em Salta que mantém umas 50 destas motos inglesas e organiza passeios pelo vale para grupos europeus, o engraçado, Martin nos confidenciou:- Saem 50 e chegam 10! Quebram muito no caminho. Após uma boa conversa e os sábios conselhos locais dele, decidimos que iríamos à Cuesta del Obispo, no outro dia próximo ao meio-dia, onde teríamos melhores chances de pegar o tempo aberto. Sorte teve o amigo João que ficaria sem conhecer a cuesta e agora tinha nova oportunidade. Fomos embora para o hotel descansar deste longo dia que bem nos parecia ter sido de 48 horas.

 CUESTA DEL OBISPO – Pela primeira vez na viagem tomamos um belo e completo café da manhã, com direito a salada de frutas, sanduiches,presunto e queijos, inclusive queijo de cabra que é bem comum na região. Também pela primeira vez não tínhamos que acordar bem cedo, o programa para o dia seriam apenas os 120 km (ida e volta à cuesta). Quem precisava fazer ajustes na moto, como eu, Adriano e Carlos levantamos às 8h também o Evandro madrugou para fazer fotos em time-lapse do alvorecer sobre o Nevado de Cachi visto da torre do hotel. Fui a uma ferreteria (ferragem) para comprar o par de parafusos para fixar a placa da moto, consegui com porcas autotravantes e arandelas (arruelas). Abastecemos as motos e fomos novamente pra RP33, estrada que liga Cachi à Salta, aqui mais uma informação, nosso passeio foi planejado para rodarmos sempre em torno e próximo à Salta, contornamos a capital no sentido horário e seria uma maneira fácil de resolvermos qualquer imprevisto pelo caminho, Salta sempre estava a menos de 200 km.Parque Nacional Los Cardones, Recta Tin-Tin, e cinco km após o ponto de retorno da véspera, lá estávamos nós, Iglesia de San Rafael e Piedra del Molino, ponto mais alto da encosta e um mirante fabuloso, a vista é realmente admirável e a vontade é de gritar, e claro que assim fizemos.Empreendemos a descida, uma das mais deslumbrantes que já passei, as curvas se revezavam ora indo de encontra a uma encosta, ora indo para a encosta oposta, ligadas por cotovelos de ângulo sempre agudo e por vezes cortados por rios de degelo. 

 Mas desta vez não era mata nem deserto, encostas cobertas de gramíneas em tons de verde, às vezes ensolaradas, às vezes sombreadas, parecendo que se moviam em torno da moto e não o contrário. Mais um momento memorável da viagem!

Descemos uns 20 km, o asfalto vai apenas até as primeiras dez curvas, depois uma estrada de saibro em muito boas condições, qualquer moto passa e acreditem: Todos precisam passar por lá! Lugar fantástico.Paramos em um pequeno restaurante bem lá embaixo, onde enquanto aguardávamos nossas “milanesas” - tradicional bife empanado argentino, eis

 que surgem duas motos bem equipadas e ao verem nossas motos estacionadas resolvem também parar. Um casal de motoviageros, ela sul coreana e ele italiano, rodando pela América do Sul, conversamos, fotografamos e até fizemos um vídeo (co-produção italiana). Isto foi muito legal mesmo 

 Voltamos pelo mesmo caminho sem muito compromisso com horário e

com o comboio, não haveria como perder-se e todos ainda queriam fotografar em um ou outro dos tantos mirantes da sinuosa e charmosa estrada. Chegamos e fomos direto abastecer as motos, pois no próximo dia teríamos um grande desafio pela frente. De banho tomado, mudamos os planos por insistência do Carlos, iríamos jantar no hotel mesmo, mas acabamos pegando um taxi para o Oliver Resto Bar.  
 
 
 Tínhamos um problema de logística, não conseguimos reservar hotel ou pousada para San Antônio de Los Cobres e conversa vai, conversa vem, Martin pegou seu celular e ligou pro seu amigo Sérgio (San Antônio de Los Cobres), dizendo que precisava de dois quartos triplos com banheiro privativo, wi-fi, estacionamento e café da manhã para seis amigos motociclistas brasileiros. Estava resolvido nosso problema. Martin é um cara especial, não conheço ninguém que já tenha viajado tanto e continua viajando, neste momento está retornando dos EUA onde foi fazer a Rota 66. Ainda este mês, deve vir de moto até minha cidade (Santa Cruz do Sul), é o número 1, gracias hermano!ABRA DEL ACAY – Depois daquele café espetacular e de dois dias no Hotel Spa La Merced del Auto, estávamos recompostos o suficiente pro grande desafio da nossa jornada de moto pelas altas montanhas do norte argentino, de volta ao rípio, e agora no teto da ruta 40. Foram dez quilômetros até o Pueblo de Payogasta, onde recomeçava a aventura, mais 30 km até a histórica cidade de La Poma, sempre margeando o nosso já bem conhecido rio Calchaqui, e subindo lentamente pelo vale.Havíamos combinado entre eu e Evandro que pegaríamos o segundo 
acesso à La Poma, eis que mais curto e após visitar o “pueblo viejo”, seguiríamos pelo terceiro acesso até retomar a 40. Ocorre que sem mais nem menos nosso cerra-fila João com sua BMW GS800 cansou de tomar poeira e resolveu andar na frente (sem GPS nem mapa) desconhecendo nossos planos quanto aos acessos à La Poma, parei e conversei com o Evandro sobre o que fazer, seguir em frente até encontrá-lo, entrar pelo segundo acesso, ou entrar pelo primeiro acesso? Resolvemos entrar pelo primeiro acesso, pois se ele tivesse parado por ali, o perderíamos. Seguimos o árduo acesso até a cidadezinha, rodamos nas ruas (todas, porém não muitas) de La Poma e fomos até o ponto histórico onde paramos para fotografar.

Uma cidade praticamente fantasma, fora abandonada após o grande terremoto de 1930, 6.4 na escala Richter, e mudou-se para a cidade nova, abandonando as tradicionais moradias de adobe. Bem próximo à cidade, pode-se ver os vulcões gêmeos (cem mil anos) e suas encostas de lavas basálticas, para um lado se contempla o Nevado de Cachi e para outro o Nevado Del Acay, para onde este pequeno e destemido grupo se dirigia. Saímos da cidade fantasma e após atravessarmos umaponte muito estreita (só a pé ou moto passava) chegamos na ruta 40, após uns três quilômetros encontramos o João esperando por nós sob a sombra de uma casa de adobe abandonada. Foram mais uns 20 km de vale e começamos a serpentear em direção ao Nevado del Acay, aquela vista estupenda e imponente do complexo montanhoso de mais ou menos seis mil metros de altitude e com o topo coberto de neve brilhante, nos servia de bússola, sabíamos ao certo para onde ir. La Poma fica a 3.015 metros de altitude, a passagem no Nevado, ao lado do vulcão del Acay, chamada Abra del Acay, fica a 5.000m, sim, praticamente se escala a estrada e não se roda. Intermináveis curvas, estrada com muito material solto, estreita e perigosa, de um lado o paredão da montanha e de outro, um abismo.

Nossas motos sentem a altitude e a falta de oxigênio para queimar, perdendo força bem quando precisamos. Nossos corpos sentem ainda mais a falta de oxigênio no ar, precisa-se respirar mais profundamente, mas mantendo a tranquilidade, entrar em pânico pode ser fatal. O mal da montanha, puna para os locais, aparece já por volta dos 2.400m de altitude, dores de cabeça, náuseas, vômitos, fraqueza, tonturas e vertigens. Estávamos armados com balas de coca e folhas de coca para enfrentarmos este inimigo nem tanto invisível, paramos muitas vezes para fotografar e nestas paradas pegávamos as folhas para mascar, o que aliviava muito os sintomas, parece que a substância das folhas é vaso-dilatadora e facilita a distribuição do oxigênio pelas células, seja o que for, funcionou! 

Quando pensávamos estar chegando, iniciava-se nova sequência de curvas, passamos por vários badanes cortados por córregos, em um deles quase que o Ricardo estacionou, conseguiu evitar a queda n’água alavancando a moto com as pernas submersas até a altura dos joelhos, isso com a temperatura pouco acima de zero grau e sensação térmica negativa devido ao vento gelado. Só melhorou quando tirou as meias molhadas.
Lhamas, alpacas, vicunhas e outros camelídeos americanos já eram rotina e não mais nos espantavam, mas ali naquela altitude vimos muitas raposas do deserto, pareciam amistosas, mas estavam na verdade com fome. Quando quase não se vislumbrava mais nada pra subir, eis que após uma curva, identifico a placa de madeira que diz: Abra del Acay – 4.995 msnm. Tasquei o dedo na buzina e gritei dentro do capacete, e os que iam chegando também o fizeram. Ainda escalamos a pé mais uma dezena de metros, mas com muito esforço devido à falta de oxigênio, para chegarmos aos cinco mil metros.

Assim que todos chegaram, nos abraçamos, tomamos água e o Carlos ofereceu um banquete de barrinhas de cereal, caiu muito bem. 

Então as raposas sentiram o cheiro de comida e partiram pra um encontro imediato, pra fazer um vídeo bacana dos bichinhos, peguei na mão direita uma tampinha da garrafa d’água, como isca, e agachado com ocelular na mão esquerda filmando, atraí uma, que se aproximou sem cerimônia e tascou uma mordida na tampinha que consegui largar milésimo de segundo antes da mordida, que baita susto! Mais um grande momento da viagem! Uma vista espetacular, lá no teto da Ruta 40, muito inspiradora, mas ventava muito. Propus um momento de imobilidade e silêncio, para meditação, contemplação ou oração, de acordo com as convicções de cada um, incrivelmente até o vento parou... Inesquecível! 

Voltamos às motos e começamos a descida da encosta rumo à San Antônio de Los Cobres (50 km), quase tão linda quanto fora a subida, curvas para a esquerda, vistas do vale, curvas para a direita, nevado del Acay, e assim sucederam-se às dezenas. 

Pouco adiante começávamos a margear o rio Acay e com ele, a vegetação começava a aparecer mais verde.
Alguns rebanhos de lhamas, guanacos e asininos, criados soltos naqueles raros campos, por vezes cruzavam a estrada à nossa frente, e a simples lembrança disto, já nos mantinha atentos e pilotando com prudência. Logo chegamos ao empalme com a RN51 e com ela, o asfalto, novo, perfeito e com excelentes curvas, aproveitamos pra virar mais o punho direito e deixar um pouco da poeira no caminho. Neste trecho, as rodovias compartilham o 

traçado, a RN51 liga Salta, ao Passo de Sico empresta aqueles quinze quilômetros para a RN40 que recomeça na direção norte mais adiante. Já na pequena e não tão charmosa Los Cobres (3.760 msnm), procuramos pelo único posto de combustíveis, onde abastecermos as motos, e em seguida estacionamos nos fundos da Hosteria La Esperanza, para nós, “la salvacion”. 
RUTA 40 OU RUTA 40 – O “La Esperanza” era completamete diferente do Spa de Cachi, mas muito melhor do que dormirmos na praça, que erao que nos apresentava. Fato é que a pequena cidade recebe muitos turistas, pois é caminho alternativo para o deserto do Atacama, enquanto estávamos curtindo o wi-fi (que só funcionava na recepção) vimos muitos europeus entrando e solicitando pouso, as a hosteria já estava lotada, parece que a cidade conta com um hotel bacana (Las Nubles) e outras três pousadas. Espantamo-nos com um casal de holandeses que estacionaram suas bicicletas em frente à hosteria, procurando pernoite, conversamos com eles que nos contaram de sua aventura. Desceram de avião até o Ushuaia, onde empreenderam cruzar a América do Sul, ainda iriam até Quito, onde de avião retornariam pra casa - Nossa!Outros motociclistas de Salta também passaram por lá e nos convenceram de que o melhor caminho para as Salinas Grandes seria pela Ruta 40 antiga. Ocorre que este era nosso plano inicial, mas conversando com o amigo Martin, na véspera, ele nos havia informado sobre os tormentos da ruta antiga, alguns bancos de areia intransponíveis e más condições da estrada, combinado ao fato de que iríamos andar uns vinte quilômetros na ruta 40 nova para conhecermos o viaduto “La Polvonilla” e o vulcão Tuzgle (quarenta, ida e volta) e já estaríamos no caminho. Assim, já havíamos decidido ir pela ruta 40 nova. Mas conversando mais sobre o assunto, com o proprietário da hosteria Sr. Sérgio, ele nos garantiu que o trecho pela ruta antiga valeria mais a pena, além de encurtar o caminho em duas dezenas de quilômetros. Fomos jantar em um restaurante bem ao lado da pousada, boa comida e ambiente climatizado, muito apropriado, pois a cidade esfria muito á noite. Assunto da noite: Ruta 40 nova ou ruta 40 antiga, eis a questão.

SALINAS GRANDES – Acordamos cedo, e depois daquele “maravilhoso” desayuno, equipamos as motos, ainda tivemos que limpar os bancos com água quente, pois havia se formado uma resistente camada de gelo sobre os mesmos, o termômetro marcava 5 graus. Partimos rumo ao viaduto La Polvonilla e ao vulcão, já decididos de que voltaríamos para pegarmos RP79 (antiga ruta 40). Carlos parou o comboio bem em frente à igreja de Santo Antônio, havia perdido seu relógio, acreditava ter ficado no hotel, esperamos uns vinte minutos quando ele retornou anunciando que não iria até o viaduto, pois ira procurar pelo relógio, nos aguardaria na volta. Estrada difícil, a 40 nova é muito pouco utilizada e não foi fácil vencer os vinte quilômetros até o viaduto, mas compensou.A obra é magnífica, o viaduto é o ponto mais alto da ferrovia mais alta do mundo, alcança ali 4.220 msnm. Como em quase todo nosso percurso, tivemos novamente muita sorte, tempo bom e ótima luz da manhã resultaram em excelentes fotos. Ainda fazia muito frio quando cruzamos sob o viaduto em busca de uma boa vista do vulcão Tuzgle, o que surgiu uns quinze quilômetros adiante, já na província de Jujuy, passando por um lindo vale. O vulcão é muito imponente, 5.501 msnm e isolado, impõem-se sobre a paisagem semi árida de sua volta, após algumas fotos, voltamos. Próximo á hosteria La Esperanza Carlos nos aguardava, com a notícia de que não achara o relógio, paciência, vai-se o relógio, ficam as horas. Seguimos rumo às salinas, pela RP79 (antiga 40). Em poucos quilômetros percebemos que seria outro daqueles trechos desafiadores, costeletas e cerrútios nos atrasavam o ritmo e testavam nossa perícia, seriam ainda 60 km até a parte sul das salinas grandes, quase tudo em uma única reta. Levamos cerca de uma hora e meia até avistarmos aquele deserto branco, eu já conhecia, mas espanta assim mesmo. Informações do Google davam como um museu dedicado às salinas e por ali acessamos, recepcionados por um funcionário ele nos informou que era apenas uma empresa mineradora de sal, mas que poderíamos entrar e dar uma volta pelo salar, com o devido cuidado, pois seria muito fácil 

nos perdermos.Seguimos uma trilha que penetrava nas salinas até que em uma curva resolvi testar aquela superfície lisa e alva, claro que fui seguido por todos, em uns 500 metros senti que a roda traseira afundava demais e parei, neste momento João e sua GS passaram buzinando e acenando para frente, tentei colocar o pezinho 

lateral mas afundou, não havia condições de parar. Olhei para trás e o Evandro já estava com a moto atolada, os demais já haviam sentido o perigo e estava retornando à segurança da trilha. Consegui parar a moto com o pezinho apoiado em uma pedra de sal e tirei algumas fotos antes de ir para terra firme. Fui socorrer o Evandro e sua Tenere que afundara até a altura do eixo traseiro. Até foi fácil, alguns metros empurrando e pronto.Quase na linha do horizonte estava o João, ele acenava, contudo não sabíamos ao certo qual era a mensagem, provavelmente estava atolado também Partiram então em missão de resgate, Carlos, Adriano e Evandro, levaram bem uns 40 minutos, indo, desatolando e voltando, tudo devidamente documentado em vídeo. Voltamos à base da mineradora, não antes de tomarmos 

um caminho errado, realmente é muito fácil perder-se, as referências são dúbias e débeis, o horizonte sempre branco e igual. Não presenciei, mas ainda tiveram de desatolar a CB500 do Ricardo. Grupo reunido, seguimos em busca do empalme com a RN52, cerca de 30km. 

A estrada conseguiu piorar, costeletas mais frequentes, muito cerrútio e não tardariam os bancos de areia. Logo a frente um desvio na estrada causado pela erosão nos fez percorrer um caminho de areia fofa. Mais adiante quase fui ao chão devido a um banco de areia enorme, bem disfarçado, no qual entrei a mais de 80 km/h, foi difícil, mas consegui sair. Como minha responsabilidade se limitava a segunda moto, esperei o Evandro passar com sucesso e segui, mantendo uns 100 metros à sua frente, dois quilômetros depois ele parava. Também parei, esperei e retornamos, a impressão à distância era de que o Ricardo havia caído, ao nos aproximarmos vimos que fora uma dupla queda, Adriano e sua Falcon e João e sua GS ainda estirados na areia fofa. Todos bem, foi só levantarmos as motos e seguir viagem, agora com cuidados redobrados. Martin novamente tinha 

razão.Logo chegávamos ao empalme com a RN52 e com isso o fim da nossa jornada no rípio. Foi intensa, emocionante e gloriosa. Estávamos já acostumados e até pegamos um certo amor pelos desafios, mas agora seria asfalto até em casa. Visitamos ainda o salar, no ponto turístico que fica às margens da 52, onde havia muitas motos, muitos grupos indo para SPA ou voltando, comemos e batemos um papo antes de seguir para Purmamarca.  

CUESTA DE LIPAN – 

Novamente era um daqueles “dias de 48 horas”, já havíamos passado por tantas experiências e aventuras que quase não acreditávamos que ainda era o mesmo dia. E no caminho havia mais uma excitante encosta para descermos. Antes, porém, ainda teríamos que subir a Abra de Lipan, que alcança 4.170 msnm, e a subida foi encantadora, curvas suaves e outras bem anguladas, asfalto perfeito, temperatura em torno dos 20 graus, paramos em alguns mirantes.Começamos a descer, paramos em vários mirantes, e a descida é realmente dramática.Já havia passado por ali, mas não recordava o quão bela é aquela estrada. Todos ficamos boquiabertos e novamente aquele sentimento de que alguém lá de cima, queria nos impressionar. A cuesta é extensa, descemos por mais de 40 km e ainda continuávamos a descer.

As encostas que iniciaram pedregosas, agora eram verdes e mais abaixo se tornaram multicoloridas, era a Quebrada de Huamauaca, nos aproximávamos de Purmamarca, a cidade do deserto. Inicialmente irámos apenas passar ela e sua feira de artesanias, mas como não conseguimos reservar hotel ou pousada em Iruya, adaptamos novamente o roteiro, e aqui fica o reconhecimento ao grupo que sempre, rápida e cordialmente chegávamos a um acordo. Pousaríamos ali e no outro dia rodaríamos um pouco mais, incluindo “La Corniza”. 

 

 

 

Purmamarca fica a 2.324 msnm, e foi declarada como patrimônio histórico mundial pela Unesco em 2.005, e seu grande atrativo é o Cerro das Sete Cores, contando ainda com uma grande feira de produtos artesanais. A cidade é pequena e charmosíssima, com inúmeros hotéis e restaurantes e recebe grande quantidade de turistas, principalmente europeus. Povo muito receptivo e acolhedor, já apresenta a cultura mais próxima da saltenha, mas com forte presença inca. Ficamos no ótimo (e caro) Hotel Casa de Piedra. Como chegamos antes das 17 horas, revisamos as motos e lavamos roupas e ainda aproveitamos o final do dia para passearmos pela cidade e conhecermos seu famoso artesanato.Neste bar (da foto acima) paramos para tomarmos unas cervezas com papas fritas, o Ricardo aproveitou para equilibrar seu estoque de moedaargentina comprando alguns regalos para a família, todos nós acabamos indo comprar alguma lembrança. Quando todos estavam à mesa, o Adriano pediu a palavra e discursou, elogiando nossa viagem e entregando um presente ao Tio Carlos, como agradecimento por todo o apoio que vinha dando ao grupo e especialmente a ele Adriano. Estávamos quase que emocionados quando Carlos abriu o pacote e surpreso, reencontrava seu relógio de pulso perdido em Los Cobres... Havia caído dentro do bauleto de Adriano ao arrumarem suas coisas para a partida ainda na fria madrugada e ele encontrara ao abrir as malas no hotel agora em Purmamarca. Foram muitas risadas.Fomos jantar em um restaurante com música ao vivo, e comida típica, até fomos homenageados pelo cantor. Realmente um show. Cidade que merece uma nova visita com certeza.

DIA DE RODAR – Depois de um ótimo café da manhã, partimos para o que seria certamente um longo dia de estrada. Seriam quase 900 quilômetros até o pernoite em Presidência Roque Saenz Peña e nosso dia começava já com a preocupação de encontrarmos um posto de combustíveis, pois nossa autonomia estava no limite para chegarmos à Jujuy.

Como pegaríamos à direita rumo a El Carmen e La Corniza e só existe posto no outro lado da Ruta 9, uma autoestrada nova com saídas raras e com viadutos, nos obrigamos a entrar na cidade para abastecer. Com o auxílio do GPS conseguimos, a saída fora um pouco mais complicada, mas logo estávamos de volta à autoestrada. El Carmen é uma cidadezinha turística, fica à margem do belo dique La Ciénaga e é aporta de acesso à famosa e bucólica La Corniza, trecho de montanha que liga San Salvador de Jujuy à Salta.

 

A estrada é famosa e pitoresca, centenas de curvas muito fechadas e com a largura variando entre 2,5 e 4m, paraíso para motociclistas, mas algo perigoso, pois exige concentração total. Valeu muito a pena, a estrada atravessa uma floresta bem preservada e algumas propriedades rurais de pecuária leiteira, propiciando ótimas paisagens e vistas deslumbrantes.Duas ou três paradas e chegávamos à área metropolitana de Salta, onde pegamos à esquerda para seguir rumo ao Chaco.Rodamos mais uns 60 km até o empalme com a RN16, que atravessa o Pampa del Infierno, seus primeiros 50 ou 60 quilômetros são bem agradáveis e ainda pegamos uma chuva leve que nos obrigou a parar, logo adiante paramos novamente para lanchar e abastecer, na cidade deEl Galpón. Ali conversamos com outro grupo de motociclistas (mineiros) que estavam indo para o Atacama.Em seguida, partimos, ainda seriam 400 km de reta, uma só, com duas ou três leves correções, quase imperceptíveis. Ainda com ameaça de chuva, mas devido ao forte calor, nos arriscamos sem os impermeáveis. Trecho chato, ruim de manter a concentração, monótono e cansativo, paramos lá pelos 200 km, reabastecidos, seguimos. Também não havíamos conseguido reservar hotel em Saenz Peña, mas sabíamos de duas ou três boas opções e uma excelente, para onde fomos, Hotel Cassino e Spa Atrium Gualok. Melhor custo/benefício da viagem, muito conforto e comodidades por um abaixo do esperado, em torno de 90 reais por pessoa.Nossa aventura estava chegando ao fim, o próximo trecho, até São Borja, seria o último com o grupo, pois de lá, eu e Ricardo partiríamos para Santa Cruz do Sul, via Santiago (BR287) e os demais para Carazinho pela BR285. Reservamos hotel, saímos para jantar e fomos dormir cedo, pois ainda teríamos que trocar o óleo das falcons pela manhã.  

.REPETINDO A ESTRADA – Fora as estradas de montanha eleitas, procuramos não voltar pelo mesmo caminho da ida, mas agora seria o caso, este trecho, RN16, RN12, RN120 e RN14, incluindo as grandes cidades de Resitência, Corrientes, a belíssima ponte sobre o rio Paraná e as cidades históricas que o margeiam a partir dali, já eram nossas conhecidas, inclusive aproveitamos e praticamente repetimos as mesmas paradas para lanche e abastecimento. Lá pelo início da RN120, o Ricardo ultrapassa o líder e pede uma parada, queria informar sua decisão de seguir solzinho a partir dali, pois pretendia rodar direto até Santa Cruz do Sul, sem o pernoite em São Borja, teria de rodar mais forte para vencer os cerca de 1.100km naquele dia. Despedidas e abraços, lá se foi o “cabeça” entortando o punho direito. Foi um dia tranquilo, chegamos em solo gaúcho lá pela meia tarde, depois de uma aduana/migração super rápida, a exemplo da ida. Mais rápida anda pois não foi preciso cambiar moedas, Carlos queria comprar todos os pesos remanescentes para repassar a um parente que precisaria logo. Ótimo hotel. Al Manara Hotel, bem no centro e um atendimento de primeira,staff muito atencioso e ótimas instalações, além é claro de um café da manhã que a muito não víamos. 

DE VOLTA AO LAR – Ainda no hotel em São Borja, lá pelas vinte e três horas, recebemos notícias da chegada do Ricardo em sua casa, alívio geral, sempre nos preocupamos quando alguém faz um longo trecho, sozinho e pegando noite. Pela manhã, acordamos em torno das 7h30m, era o fim da “disciplina militar”, que acabei impondo ao grupo, tomamos o café com calma, acertamos as contas e fui me despedir da turma que partia para Carazinho, construímos laços de amizade e de certa forma de comprometimento mútuo durante a jornada, afinal transpusemos a Abra del Acay juntos. Falei lá e repito aqui, foi uma honra rodar com pessoas tão amáveis e compartilhar o prazer que foi esta aventura. Espero poder contar com a companhia de vocês novamente.Logo depois, equipei minha moto e parti, desta vez, solo. Parei no primeiro posto para abastecer e calibrar os pneus e segui rumo à Santiago, estava um pouco frio, mas logo que o sol ganhou alura melhorou e foi um agradável dia de estrada. Não tardou para descer a serra de Jaguari e, rapidamente já estava em São Pedro do Sul, onde parei para lanche e abastecimento. Rodei muito por ali, quando trabalhei em Alegrete nos anos 90, conhecia bem a estrada, passou depressa, apesar de que andava absolutamente sem pressa. Santa Maria tumultuada, além do movimento intenso, muitas obras de melhoria da estrada, principalmente em Camobi. Cheguei em casa ainda antes das 14h. Corpo cansado e espírito renovado, realmente “navegar” é preciso.  

 

 

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